domingo, 3 de janeiro de 2016

Imposição da Magreza na Infância - Sobre Minha Filha e Eu

Minha filha tem 10 anos. Completa 11 em dezembro.
Ela é do tipo "cheinha", não chega a estar com o peso maior do que o "recomendado" pra sua idade, mas não é magra como as outras.
Minha filha tem amigas com corpos dentro dos padrões - o que não deveria existir, muito menos na infância.
Uma dessas meninas que tem o corpo padrão (e é branca, loira, de olho verde, riquinha) vive chamando minha filha de gorda.
Nunca vi ninguém chamando as outras meninas de magras ou qualquer adjetivo que demonstra que os corpos delas deveriam ser motivo de xingamentos ou piadas.
Quando eu tinha a idade da minha filha, a história era a mesma. Me chamavam de gorda, mas as magras era praticamente idolatradas.
As pessoas vivem comentando o quanto minha filha engordou. Já ouvi piadinhas ou comentários maldosos.
EU era alvo desse tipo de ataque, vindo de outras crianças e, também, adultos. Ninguém me defendia, diziam que eu não deveria ligar. Mas como não ligar? Eu ligava SIM! Eu chorava, eu me via como uma pessoa anormal! Ninguém comentava com naturalidade sobre meu corpo, era sempre com um tom de maldade, nojo, sarcasmo...
Vi minha filha chorando ao se olhar no espelho. Vi minha filha sentindo repulsa de seu corpo. Vi minha filha deprimida pelos cantos. O ápice, foi ver minha filha com vergonha de usar uma mini saia, daí tive de agir: eu a obriguei a sair com a saia (pode parecer cruel, mas eu queria que ela soubesse que ela tem tanto direito quanto as amigas magras) e me revoltei.
Eu fui leoa, pulei na frente de todo mundo, e falei que o próximo que tocasse no assunto do peso dela, ia se ver comigo, porque ferraram minha vida e eu não ia deixar ferrarem a dela também.
Ouvi de muita gente que eu exagerei.
Vi pessoas maldosas usando pretextos pra exibirem sua magreza pra minha filha.
Mês passado, ela quis pintar o cabelo de vermelho, e eu deixei. Achei que mudar, ia dar um up na estima dela, e ela ia ficar feliz ao se olhar no espelho. De fato, aconteceu!
Essa semana, ela me disse que muitas meninas da escola amaram o cabelo ruivo dela, assim como outras riram.
Ela disse que uma menina da sala dela, que implica com ela desde o começo do ano, falou que ela estava horrível.
Ela me falou também:
-Mamãe, a Joana* é gorda, eu até poderia fazer igual todo mundo, e usar isso pra ofender ela, mas eu não vou fazer, porque a Mariana* faz isso comigo e eu sei o quanto dói.
Minha filha - uma criança de 10 anos - está aguentando CALADA os desaforos de uma menina, e ainda tem dó dela, porque sabe o quanto as pessoas são cruéis com gente gorda. E já está entendendo que o tipo físico das pessoas nunca deveria ser motivo de ofensas.


Muitos casos de anorexia e bulimia tem início na infância. Sempre a mesma cobrança: seja magro(a).

O "mundo" é feito sob as medidas magras. Roupas, bancos, cadeiras, sapatos, etc...
Aqueles concursos de beleza em escolas, super problemáticos, excluem as crianças gordas. Ninguém parece se preocupar com os sentimentos delas.
Entre tantas outras coisas...

Tem criança sentindo na pele que não cabe nas medidas do mundo!


*nome fictício

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Lei da Palmada: Eu concordo!

"Eu apanho no corpo todo, não ligo tanto de apanhar, mas desde que não seja no rosto. Eu nem me importo mais quando ela me bate no resto do corpo, mas se me bate no rosto, eu não falo com ela até o dia seguinte, porque me magoa, fico muito triste!" (dito por uma criança de 7 anos)

"Mentira que sua mãe não te bate! TODA mãe bate! A minha me bate pouco, só quando eu brigo com minha irmãzinha mais nova, daí ela bate" (dito por uma criança de aproximadamente 8 anos, para minha filha, de 10, quando elas conversavam sobre castigos físicos)

"Eu não vou deixar minha filha virar uma qualquer, se ela fizer isso outra vez, eu vou bater mesmo, vou arrebentar!" (dito pela mãe de uma criança de 5 anos)

"Eu não bato pra machucar, mas quando o pai dela pega, coitada, dá até pena! Uma vez ele bateu tanto, tanto, que ela fez até xixi na roupa." (dito pela mãe de uma criança de 5 anos)

Esses relatos são reais, foram ditos para mim ou perto de mim. Não tem falas nem personagens fictícios. Infelizmente.

Que tal usar suas mãos para o que é certo?
Mãos acariciam e abraçam! Palavras educam!
Eu concordo que haja uma lei que ampare a criança em caso de violência, mas
não tem razão que justifique a violência no trato de crianças, pois desde sempre ouvimos dizer que é errado bater em mulheres e animais, então, por que bater em criança seria correto?
Pergunto para quem justifica que bater é educar: Onde fica nosso argumento de que devemos resolver nossos problemas sem violência? Se ao primeiro problema que a criança causa, ela leva um tapa???
Tem gente que justifica que violência é uma coisa, e palmada é outra. Não é diferente! É o mesmo! O que diferencia um tapa de um soco é a força que se aplica para faze-lo.
E essa diferenciação que os defensores da palmada fazem, é tida como normal quando o assunto é criança, mas e quando se trata de adultos? Por que é absurdo um homem dar um tapa, ou vários, em uma mulher? Por que um homem vai preso por dar cintadas em sua esposa? Por que uma pessoa é condenada, e tem sua foto compartilhada em redes sociais como agressora, monstra, e todo tipo de ofensa, quando ela enche um cachorro de cintadas? E por que isso tudo é naturalizado quando se trata de crianças???

                       


A resposta é que a maioria de nós normatizamos a palmada, e mesmo quem não o faz mais, já considerou normal ou até já fez um dia. É o meu caso.
Houve um tempo em que eu achava que só uma boa palmada corrigiria um erro grave de uma criança. Eu criava teorias para aplicar palmada em algumas situações, e imaginei que era bom meus filhos terem um pouco de medo de mim, apesar da amizade que eu pretendia criar com eles. Parece contraditório, afinal, em amigos não se bate (ou não deveria se bater), mas na época não me parecia nada estranho...
Cheguei a dar palmadas, e me sentia um monstro depois. Eu odeio ser humilhada, e ver uma criança humilhada em um canto, chorando, indefesa, era triste pra mim. Minha auto-defesa era achar que estava fazendo o melhor pra eles, mesmo me sentindo péssima. E mesmo evitando até o último, dando a palmada somente quando fosse uma situação extrema, eu fazia, e achava certo.

Se tenho uma alternativa não dolorosa/humilhante,
por que não usar?
Quando passei a ter mais acesso a conteúdos sobre crianças na internet, percebi que haviam pessoas que diziam educar sem bater, e que não só era possível, como melhor. Me interessei e li.

Descobri que o que me faltava, naqueles momentos tensos, era a compreensão de que crianças são humanas, e tem sentimentos iguais aos nossos. Eu precisei desconstruir a ideia de que educação e palmadas são sinônimos, e começar a entender que a palmada atrapalha na formação de uma criança, e muito.
Comecei a não ter mais preguiça em falar 10, 20, 50, 100 vezes a mesma coisa, pois esse era um dos motivos que me levava a recorrer a agressão. Percebi que o problema não é as crianças, mas sim, minha falta de paciência. Eu era a impaciente da história, eles não mereciam sentir dor por isso.
Hoje em dia, preciso falar cada vez menos, pois eles estão mais educados sem palmadas.

Além de entender o problema que eu tinha em orientar várias vezes, ou o de querer resultados aparentemente rápidos, eu precisava entender apenas mais uma coisa: Não bater não quer dizer não impor limites! Sim, as pessoas fazem essa confusão. Não é fácil distinguir uma coisa da outra, visto que crescemos aprendendo que pra impor limites, é necessário um tapa. 
Nós, quando éramos crianças, muitas vezes só entendemos que chegamos no limite quando apanhávamos, e isso não é bom, mas foi assim que nossos responsáveis nos condicionaram. 
Eu vejo hoje em dia que na grande maioria das vezes basta falar, pois meus filhos sabem que quando eu falo, não é a toa. Eles aprenderam a ouvir minhas palavras, e não a esperarem pela agressão pra perceberem que deveriam levar a sério. Demorei, mas consegui esse progresso. E estou lutando cada dia mais para vencer os impulsos que tenho de dar palmadas, pois está enraizado em mim, por mais que eu tenha apanhado raras vezes quando era criança.

Hoje em dia, paro pra lembrar das poucas vezes que apanhei. é claro que parei na hora o que estava fazendo, seja lá o que fosse, mas isso não queria dizer que aprendi algo, mas sim que tive medo. Isso não quer dizer que eu sabia que era errado, e muito menos queria dizer que eu não voltaria a fazer. Palavras nos fazem entender. Agressões de qualquer natureza não. 

                                  

Tenho certeza de que cadeias e fundações casa não estão cheias de pessoas criadas com amor! Ali tem pessoas que foram criadas a base da violência, ou da permissividade.
Pessoas educadas com amor não são pessoas que podem fazer tudo porque a mãe e o pai permitem, mas sim, pessoas que tem seus limites e suas regras muito bem estabelecidas. Essas pessoas não sofrem agressões pra entender que ultrapassaram limites ou quebraram regras, elas entendem as consequências que haverão por isso, consequências estas que não são dolorosas nem humilhantes. Elas podem reagir a isso, afinal, nem os adultos sofrem felizes as consequências ruins de seus erros, e nem sempre entendem. As crianças também não. Mas é importante o adulto compreender e não reprimir os sentimentos delas.

Agora virou lei!

E no fim, meus filhos estão melhorando muito, pois deixaram de ser agredidos e eu deixei de ser uma agressora. Sim! Agressora! Não tenho medo do título que carreguei mesmo com toda a melhor intenção do mundo.
Feliz com minha melhor escolha! Educar sem usar violência!!! Estou cada dia melhorando nisso, e tenho certeza que quem chegou até aqui, também consegue!

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Horror de Vaginas??? Tati Bernardi e a Repulsa por Fotos de Parto Natural

Sou do tipo de pessoa que costuma ler tudo, até bula de remédio...
Um dia desses (não me recordo se foi ontem ou anteontem, coisas da maternidade, não lembrar direito os dias) percebi um certo reboliço na minha timeline do Facebook: Era Tati Bernardi pra cá, Tati Bernardi pra lá... A curiosidade foi tanta, que mesmo tendo entrado só pra ver os recados bem rapidinho - o que acaba sempre me levando uma ou duas horas - fui ler o tal texto que mexeu com os nervos de geral. Eis o texto.
Pensei: Se um texto começa dizendo que alguém não quer ver a minha "xota", boa coisa não pode sair.
Comecei a ler, e quase não chego ao final, tamanha a minha incredulidade! Como pode um texto assim ter sido escrito por uma mulher???
Bem, essa mulher só pode não ter filhos, não é possível!
Aliás, ela só pode não ter vagina!
É verdade mesmo que ela é roteirista, tem sei lá quantos livros publicados, e blablabla??? 
Como pode alguém com esse currículo, escrever isso???

Bem, fico feliz quando ela diz que respeita quem escolhe parir, mas é uma baita contradição dizer que cada uma é dona de si, e criticar quem posta fotos de seu parto no Facebook. Se a mulher é dona de si, ela pode mostrar seus "grandes lábios" não só pro tio Miltinho ou pra Vó Carminha. Ela pode mostrar pra quem ela quiser!
Quem não sabe sobre a realidade obstétrica brasileira, não consegue entender o tamanho do orgulho da mulher que consegue passar por cima de todo um sistema e parir com dignidade. Não entende o quanto é necessário esfregar na cara do sistema que somos donas dos nossos corpos e sim, podemos parir sem todas as intervenções inúteis e cruéis que são protocolo dos hospitais. Não sabem o quanto essas fotos de "xerecas parideiras pontocom" podem incentivar outras mulheres, que já tiveram sua segurança e auto confiança minadas por uma sociedade que acha que mulher não sabe mais parir.



Voltando ao início do texto, onde ela fala que confia mais em hospitais com salão de beleza e concerto de piano na recepção: Tati, ficaria tão mais legal se você falasse das taxas de cesáreas eletivas nesse tipo de maternidade... 
Gata, os números são maiores que 90%!
Então, gata, você sabe dos riscos ao bebê e à mãe nas cesáreas eletivas que são rotina nesses hospitais que poderiam ser hotéis 3 estrelas em Miami??? Posso citar vários, mas o mais comum é errarem o tempo do bebê e tirarem ele prematuro. Tipo, se você curte uma UTIzinha, umas furadinhas aqui, outras ali, acho que você ia adorar estar no lugar desses bebês, que mal chegam ao mundo, ja são submetidos a tudo isso...
Tudo isso, em troca de dinheiro, gata... 
Agora, se você foi em busca de ver uma mulher burrinha e baranga, e se surpreendeu ao ver um mulherão parindo like a lioness, mas ainda assim não entendeu, pode deixar que eu te explico: A namorada do seu ex colocou a "xuranha" pra berrar a quem possa ouvir, a seguinte mensagem: "Nós mulheres, podemos sim parir!".
Saiba que ela pode, eu posso, você pode, e com raras exceções, todas podemos! 
Aliás, se você gasta tanto com médicos, exames, tratamentos e hospitais, talvez fosse uma boa hora pra rever isso... Você talvez não precise disso!
Outra é que, convenhamos, você foi extremamente indelicada e invasiva ao falar da vagina alheia no seu texto pra um jornal de grande público. A dona da "ximbica" tem todo o direito de expô-la onde bem entender, mas você não tem direito de expôr o corpo de outra pessoa.
Quem não quer ver fotos de parto em sua timeline, que não curta páginas ou entre em grupos do assunto!
Se alguém compartilhou, oculte a publicação! Se essa pessoa insiste em compartilhar, oculte o feed! Não precisa necessariamente excluir, mas não deixa de ser uma opção!

Gente, sei que nem todas temos intimidade o suficiente com nossa vulva/vagina, mas sempre é uma boa hora pra começarmos a nos relacionar melhor com ela. Essa parte do nosso corpo é tão legal, tão prazerosa, útil... Pra que tanta vergonha??? 
Nesse texto aqui, dá pra entender super bem os motivos pelos quais acabamos não tendo intimidade suficiente com essa parte do nosso corpo, ou porque temos tanta vergonha dela...
É imprescindível sabermos tudo sobre ela, para entendermos nosso próprio prazer, e nosso parto! Para entender, precisamos tocar, sentir, experimentar... Não precisa ter vergonha, não precisa fazer isso na frente de outras pessoas, mas precisa se conhecer!

Um pouco mais sobre a "fobia" que somos condicionados a ter em relação à vaginas nesse texto aqui, e aqui também.

E, em tempo: Tati, vai se amar, por completo, até mesmo sua vagina! Acredite no poder natural do seu corpo, no poder da sua vagina! Pare de atacar a vagina alheia pra se sentir melhor!